sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Patrick Anderson deslumbrou; Anfitriões e alemães protagonizaram jogo do dia


“Thanks for the warm-up”. O começo do torneio paralímpico de basquetebol em cadeira de rodas fez jus ao spot atrevido do Channel 4, estação oficial dos Jogos Paralímpicos. Num dos duelos mais esperados do dia, a Grã-Bretanha caiu frente aos alemães por 77 – 72, que vingaram assim a derrota averbada no campeonato da europa em Setembro. 


Foto: International Paralympic Committee
Depois de um início atípico, com as equipas a errarem o cesto durante os três primeiros minutos, foram os alemães a desbloquear o marcador através de Sebastian Wolk. Seguiu-se um verdadeiro recital de basquetebol, muito por culpa do base André Bienek (15 pts, 11 ressaltos, 12 ast e 1 roubo de bola), autor de dois triplos consecutivos, permitindo à equipa descolar no marcador. 


Aos repelões, negligenciando na defesa o tiro exterior do adversário, a Grã Bretanha respondia timidamente pelas mãos calejadas do experiente Simon Munn. O poste, que aos 44 anos participa nos seus 7ºs jogos paralímpicos e prevê acabar a carreira após a competição, apontou 6 dos 10 pontos ingleses no 1º período, terminando com 21 pontos, 14 ressaltos e 1 roubo de bola. 

A partir do 2º período, tudo mudou. Os britânicos, que perdiam por 21-10, tornaram-se mais agressivos na defesa, subindo a zona por vários momentos, e encarrilaram para uma recuperação fantástica quando o fosso chegou a ser de 18 pontos. Depois de assumirem o comando, já no 3º quarto, a liderança da partida alternou 7 (!) vezes com Terry Bywater (19 pts, 8 ressaltos e 9 ast)  a encher o campo, na North Greenwich Arena, tentando empurrar os anfitriões para o triunfo. 

Mas do outro lado estava Dirk Passiwan (26 pts, 9 ressaltos e 4 ast), o melhor marcador do último Europeu, que aplacou o ímpeto dos ingleses ao assinar 11 pontos no derradeiro tempo. Com o resultado empatado a 66,  chegou o prolongamento. Aí, a assertividade dos germânicos na hora de atirar ao cesto e um turnover de Peter Finbow fizeram pender a vitória para os “visitantes”. Resultado final: Alemanha 77 Grã Bretanha 72.


Anderson e os outros

Foto: Wheelchair Basketball Canada
Entre os jogos disputados ontem, destaque para a derrota surpreendente dos EUA contra a Turquia por 59-50. A avaliar pela prestação dos americanos não parece ser desta que reeditam o ouro que escapa desde 1988.
Já a selecção espanhola, presentes pela 1ª vez desde Atlanta 96, entrou a vencer de forma autoritária, impondo-se por 67-40 diante a Itália.

O Canadá, vice-campeão em Pequim, derrotou sem dificuldade o Japão (68-53), mostrando a super estrela Patrick Anderson (32 pts, 13 ressaltos, 3 asts e 3 roubos de bola) numa forma assombrosa. Sem dúvida um bom presságio para as esperanças canadianas em levar o ouro para casa.
Os Rollers, alcunha da selecção campeã, a Austrália, deixaram patente a sua superioridade face à África do Sul, obtendo o resultado mais dilatado do dia: 93-39.

Na competição feminina, as campeãs em título, EUA, derrotaram a França por 63-24, enquanto o jogo que opôs a Áustrália, bronze há quatro anos, ao Brasil terminou com o resultado de 52 – 50 favorável às australianas.

Os Jogos Paralímpicos podem ser vistos online no site do Comité Paralímpico Internacional, que presta atenção especial na sua emissão ao atletismo, natação, e claro, ao basquetebol em cadeira de rodas.

terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Meet the Superhumans" - a antítese do desporto adaptado português



 
Este é um dos grandes spots do Verão. "Meet the superhumans" é capaz de deixar mesmerizado o cidadão comum, os seguidores mais fiéis do desporto paralímpico, no fundo, todos os apreciadores da imagética desportiva. 

Num minuto e meio, o coro de luzes, imagens retumbantes e sequências sonoras vertiginosas presenteiam o mundo com uma viagem de requinte por várias das modalidades paralímpicas e, mais que tudo, prestam um verdadeiro serviço público ensinando ao telespectador/cibernauta, sem este dar conta, que aqueles atletas seriam-no sempre, com ou sem deficiência. 

Mas presenciar a excelência tem um travo amargo quando se é português. Em 4 anos de carreira no basquetebol adaptado, detectei, com mais argúcia do que desejava, a fragilidade dos desportos destinados a pessoas com deficiência em Portugal. Parasitismo e nepotismo da classe dirigente, pouca crença dos atletas no facto de que o desporto profissional não é uma miragem, apoios governamentais a roçar o ridículo,"umbiguismo" sem limites de todos os envolvidos, - salvaguardando honrosas excepções -, persistência numa mentalidade paternalista  da sociedade e dos deficientes em relação a si mesmos que, ao invés de se superarem, vivem acabrunhados.  Junte-se tudo e só se obtém um resultado: fracasso. 

Por isso, o clip do Channel 4, dirigido por Tom Tagholm, agarrou-me não só pela odisseia visual de luxo, mas por que corporiza o que o desporto adaptado devia (deve) ser: único, livre de condescendência e outros sentimentos menores, intenso e - perdoem-me o chavão - igual. 

E enfatizo "igual", porque a minha sanidade se esgotou perante as aparições mediáticas e institucionais do desporto adaptado enquanto ferramenta de reabilitação e fonte de inspiração para todos. O desporto serve de reabilitação para pessoas com e sem deficiência; claro que assumirá maior preponderância no primeiro caso, reconheço; seja como for, basta. E basta que a pessoa com deficiência personifique a virtude, a perseverança, a vontade. Ou que sistematicamente os chefes de governo e companhia deixem mensagens de apoio tão redutoras como a que Passos Coelho endereçou à nossa comitiva paralímpica - "O esforço que têm de fazer, no seu dia-a-dia, para vencer essas adversidades é levado ao limite quando se entregam à competição paralímpica". Dispensam-se bacoradas como esta. 

Resumindo, os atletas com deficiência não são heróis; são bons e maus competidores, boas e más pessoas. São, como os outros. Heróis são os 30 atletas portugueses que se agigantam contra esta maré de obstáculos e a partir de quinta feira vão lutar por uma bandeira que muitas vezes não os merece.