Num minuto e meio, o coro
de luzes, imagens retumbantes e sequências sonoras vertiginosas presenteiam o
mundo com uma viagem de requinte por várias das modalidades paralímpicas e,
mais que tudo, prestam um verdadeiro serviço público ensinando ao
telespectador/cibernauta, sem este dar conta, que aqueles atletas seriam-no
sempre, com ou sem deficiência.
Mas presenciar a excelência
tem um travo amargo quando se é português. Em 4 anos de carreira no basquetebol
adaptado, detectei, com mais argúcia do que desejava, a fragilidade dos
desportos destinados a pessoas com deficiência em Portugal. Parasitismo e
nepotismo da classe dirigente, pouca crença dos atletas no facto de que o
desporto profissional não é uma miragem, apoios governamentais a roçar o
ridículo,"umbiguismo" sem limites de todos os envolvidos, -
salvaguardando honrosas excepções -, persistência numa mentalidade paternalista
da sociedade e dos deficientes em relação a si mesmos que, ao invés de se
superarem, vivem acabrunhados. Junte-se tudo e só se obtém um resultado:
fracasso.
Por isso, o clip do Channel
4, dirigido por Tom Tagholm, agarrou-me não só pela odisseia visual de luxo,
mas por que corporiza o que o desporto adaptado devia (deve) ser: único, livre
de condescendência e outros sentimentos menores, intenso e - perdoem-me o chavão
- igual.
E enfatizo
"igual", porque a minha sanidade se esgotou perante as aparições
mediáticas e institucionais do desporto adaptado enquanto ferramenta de
reabilitação e fonte de inspiração para todos. O desporto serve de reabilitação
para pessoas com e sem deficiência; claro que assumirá maior preponderância no
primeiro caso, reconheço; seja como for, basta. E basta que a pessoa com
deficiência personifique a virtude, a perseverança, a vontade. Ou que
sistematicamente os chefes de governo e companhia deixem mensagens de apoio tão
redutoras como a que Passos Coelho endereçou à nossa comitiva paralímpica -
"O esforço que têm de fazer, no seu dia-a-dia, para vencer essas
adversidades é levado ao limite quando se entregam à competição paralímpica".
Dispensam-se bacoradas como esta.
Resumindo, os atletas com
deficiência não são heróis; são bons e maus competidores, boas e más pessoas.
São, como os outros. Heróis são os 30 atletas portugueses que se agigantam
contra esta maré de obstáculos e a partir de quinta feira vão lutar por uma
bandeira que muitas vezes não os merece.
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