terça-feira, 28 de agosto de 2012

"Meet the Superhumans" - a antítese do desporto adaptado português



 
Este é um dos grandes spots do Verão. "Meet the superhumans" é capaz de deixar mesmerizado o cidadão comum, os seguidores mais fiéis do desporto paralímpico, no fundo, todos os apreciadores da imagética desportiva. 

Num minuto e meio, o coro de luzes, imagens retumbantes e sequências sonoras vertiginosas presenteiam o mundo com uma viagem de requinte por várias das modalidades paralímpicas e, mais que tudo, prestam um verdadeiro serviço público ensinando ao telespectador/cibernauta, sem este dar conta, que aqueles atletas seriam-no sempre, com ou sem deficiência. 

Mas presenciar a excelência tem um travo amargo quando se é português. Em 4 anos de carreira no basquetebol adaptado, detectei, com mais argúcia do que desejava, a fragilidade dos desportos destinados a pessoas com deficiência em Portugal. Parasitismo e nepotismo da classe dirigente, pouca crença dos atletas no facto de que o desporto profissional não é uma miragem, apoios governamentais a roçar o ridículo,"umbiguismo" sem limites de todos os envolvidos, - salvaguardando honrosas excepções -, persistência numa mentalidade paternalista  da sociedade e dos deficientes em relação a si mesmos que, ao invés de se superarem, vivem acabrunhados.  Junte-se tudo e só se obtém um resultado: fracasso. 

Por isso, o clip do Channel 4, dirigido por Tom Tagholm, agarrou-me não só pela odisseia visual de luxo, mas por que corporiza o que o desporto adaptado devia (deve) ser: único, livre de condescendência e outros sentimentos menores, intenso e - perdoem-me o chavão - igual. 

E enfatizo "igual", porque a minha sanidade se esgotou perante as aparições mediáticas e institucionais do desporto adaptado enquanto ferramenta de reabilitação e fonte de inspiração para todos. O desporto serve de reabilitação para pessoas com e sem deficiência; claro que assumirá maior preponderância no primeiro caso, reconheço; seja como for, basta. E basta que a pessoa com deficiência personifique a virtude, a perseverança, a vontade. Ou que sistematicamente os chefes de governo e companhia deixem mensagens de apoio tão redutoras como a que Passos Coelho endereçou à nossa comitiva paralímpica - "O esforço que têm de fazer, no seu dia-a-dia, para vencer essas adversidades é levado ao limite quando se entregam à competição paralímpica". Dispensam-se bacoradas como esta. 

Resumindo, os atletas com deficiência não são heróis; são bons e maus competidores, boas e más pessoas. São, como os outros. Heróis são os 30 atletas portugueses que se agigantam contra esta maré de obstáculos e a partir de quinta feira vão lutar por uma bandeira que muitas vezes não os merece. 

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