domingo, 3 de fevereiro de 2013

Laureus Awards 2013: os nomeados na categoria de paraatleta do ano, em detalhe


Londres 2012 teve toque divino. Aclamou uns como lendas, serviu de palco de sonho para outros tantos debutantes, deixou incrédulos alguns nomes firmados, naqueles que foram "os Jogos". A excelência paralímpica arvorou-se na casa que a viu nascer, deixando um legado que se espera perene para o desporto adaptado. 

Nos Laureus Awards 2013, os "óscares do desporto", Alan Fonteles Oliveira, Patrick Anderson, Daniel Dias, David Weir, Alex Zanardi e Johanna Benson, são os contemplados com a nomeação de "Atleta com deficiência" do ano de 2012. A Gala está marcada para dia 11 de Março de 2013, no Rio de Janeiro.

Conhece um pouco melhor a história e as conquistas dos protagonistas que Londres 2012 fez questão de eternizar.



Alan Fonteles Oliveira

Data de nascimento: 21/08/1992
Naturalidade: Parauapebas, Pará, Brasil
Iniciação no atletismo: Aos 8 anos de idade
Medalhas paralímpicas: 2 (prata e ouro)
Primeiros Jogos: Pequim 2008
Lesão: Amputação das duas pernas aos 21 dias de idade devido a uma infecção intestinal que conduziu a septicémia

A frase: "The prosthesis don't run alone" (The Guardian), a propósito das dúvidas de Oscar Pistorius sobre a legalidade das suas próteses.

Alan Fonteles Oliveira foi o obreiro da maior surpresa dos Jogos de Londres 2012. Ao derrotar o super favorito Oscar Pistorius na final dos 200m, T44, o brasileiro pareceu emergir na cena paralímpica aos olhos de todos, quando na realidade Oliveira já havia arrebatado a prata, na prova de estafeta de 4 x 100m, em Pequim 2008. 

Além de deixar boquiabertos os 80 000 espectadores do Estádio Olímpico, o velocista derrubou o estatuto invencível do controverso Oscar Pistorius, que revelou "mau perder" após cruzar a meta. O "Blade Runner" pôs em causa a validade das próteses do seu adversário, que o relegou para o 2º lugar do pódio por apenas 7 centésimos. Fonteles Oliveira fez 21,45 s, enquanto o sul-africano alcançou a marca de 21,52s. A vitória valeu-lhe a distinção de 2º momento paralímpico do ano, por parte do International Paralympic Committee (IPC) - "London's biggest upset". 

O MOMENTO

               

Patrick Anderson

"Pat is the perfect wheelchair basketball machine" Jerry Tonello, seleccionador canadiano

Data de nascimento: 22/08/1979
Naturalidade: Edmonton, Alberta, Canadá
Iniciação no basquetebol: Aos 9 anos de idade
Medalhas paralímpicas: 4 (1 prata e 3 ouro)
Primeiros Jogos: Sidney 2000
Lesão: Amputação das duas pernas aos 9 anos 






A frase: “That’s the least I owe the sport, to not shy away from that label, embrace it and enjoy it and be grateful that people appreciate my game", em resposta à pergunta sobre o seu estatuto como melhor do mundo (National Post)

Todos os elogios são curtos para o génio de Patrick Anderson. Ele é a prova viva de que o currículo nem sempre fala por si. Anderson é muito mais do que as 4 medalhas paralímpicas, afinal o "all around" canadiano foi um dos primeiros a erguer-se na cadeira numa só roda, um acrescento técnico banal para a modalidade nos dias de hoje, absorvendo ainda adolescente as experiências do companheiro de selecção e amigo, Joey Johnson, e do australiano Troy Sachs. 

Redefiniu o jogo, aprimorou-o, "usurpou" o atleticismo e técnicas do basquetebol a pé, até então dogmaticamente inacessíveis à versão sobre rodas. Além dos títulos pela selecção (ouro em Sidney, ouro em Atenas, prata em Pequim e ouro em Londres; campeão do mundo em 2006), Pat Anderson acumula êxitos ao nível de clubes, tendo sido considerado o MVP da liga australiana em 2003 e contribuído sobremaneira para os 3 triunfos consecutivos na Champions Cup de RSV Lahn-Dill, equipa alemã que representou. No Canadá e EUA, o estudante de música também venceu vários campeonatos. 

Após Pequim, optou por um período sabático, que interrompeu em 2011 com a preparação dos Jogos Paralímpicos de Londres 2012. Aposta inequivocamente ganha: o Canadá trouxe o ouro e Anderson foi o rei das assistências (39) e o único a ultrapassar os 100 pontos marcados no torneio (133).

A sua prestação foi eleita o 27º momento paralímpico de 2012 - "Humbled Anderson". 

O MOMENTO

Em 2008, na meia-final diante os EUA, o astro canadiano fez isto: 

               

Daniel de Faria Dias, "Phelps Brasileiro"

Data de nascimento: 24/05/1988
Naturalidade: Campinas, São Paulo, Brasil
Iniciação na natação: 16 anos de idade
Medalhas paralímpicas: 15 (10 ouro, 4 prata e 1 bronze)
Primeiros Jogos: Pequim 2008
Lesão: mal formação congênita dos braços e da perna direita 





A frase: "Meu objetivo é fazer com que as pessoas vejam que o esporte paralímpico não é só fisioterapia ou um hobby" (Esporte Essencial)

Daniel Dias é mais um dos casos que rompe com o suposto paradigma que afirma como indissociável a iniciação em tenra idade do sucesso, na alta competição. Atenas 2004 foi o gatilho "tardio" do craque brasileiro, que se sentiu inspirado pelas prestações do compatriota Clodoaldo Silva, nadador que arrecadou 6 medalhas de ouro, 5 de prata e 2 de bronze, na carreira (está ainda no activo). 

Em apenas 2 meses, aprendeu 4 estilos de natação e, 4 anos mais tarde, na sua estreia paralímpica, trouxe 9 medalhas, 4 de ouro, 4 de prata e 1 de bronze. Dispensam-se, por isso, explicações ao epíteto de "Phelps brasileiro". Em Londres 2012, ampliou o pecúlio, logrando mais 6 medalhas, todas de ouro. 

Mas antes da espiral de vitória, aquele que é reconhecido como o melhor atleta paralímpico brasileiro de sempre, viu-se a braços com problemas financeiros, participando nas competições com o apoio do pai.
Fora das piscinas, o atleta dedicou-se ao estudo da Educação Física e Engenharia Mecatrónica, na Universidade de San Francisco, Estados Unidos.

Daniel Dias já é um repetente em nomeações para os Laureus - 3 vezes - e, em 2009, levou mesmo o galardão de melhor atleta com deficiência. Até então, somente outros 3 atletas brasileiros tinham sido premiados com um Laureus: Pélé, Ronaldo e Bob Burnquist.

Outros títulos e distinções: 

- Campeonatos do mundo: 3 ouro, 2 prata, Durban 2006, 8 ouro, 1 prata, Eindhoven 2010
- Parapanamericanos: 8 ouro Rio 2007, 11 ouro Guadalajara 2011
- Atleta paralímpico do ano 2011 para o Comité Paralímpico Brasileiro

O MOMENTO

                

David Weir

"I think the British public gets Paralympic sport and I think it was the first time (at a Games) we didn’t get treated as disabled"


Data de nascimento: 05/06/1979
Naturalidade: Surrey, South East England, Inglaterra
Iniciação no atletismo: 8 anos de idade
Medalhas paralímpicas: 10 (6 ouro, 2 prata e 2 bronze)
Primeiros Jogos: Atlanta 1996
Lesão: Transecção da medula espinal 




A frase: "If it wasn't for wheelchair racing I don't know what I would have done. I'd probably have been a bum" (The Independent)

“David, you are the big hero of London. Nobody can beat you. I tip my hat". Nada melhor do que o encómio de uma lenda do atletismo em cadeira de rodas como Heinz Frei para compreender a grandeza de Weir. 4 medalhas de ouro em Londres 2012 consagraram a carreira de "David Weir-Wolf" -  alcunha que os adeptos da GB popularizaram durante os Jogos. 

Mas nem sempre a bússola apontou para os triunfos. O corredor britânico, recordista da meia-maratona de Lisboa, viu, bem cedo, o percurso como atleta povoado de dúvidas e obstáculos, levando-o mesmo a atirar a toalha ao chão, atitude impensável no David Weir de hoje. Depois de participar nos Jogos Paralímpicos de Atlanta '96, a desmotivação apoderou-se do jovem Weir, então com 17 anos. "The Athletes’ Village, the facilities, the crowds were all ‘very  disappointing’. America did not — and still does not, to a large extent — ‘get’ the Paralympic movement", afirmou ao Daily Mail

Mais tarde, quando assistia aos Jogos de Sidney 2000 pela televisão, David sentiu que estava na altura de atacar de novo as pistas. 4 anos volvidos, participou na Paraolimpíada de Atenas, conseguindo 1 medalha de prata e 1 de bronze. Em Pequim, acrescentou ao palmarés 1 medalha de bronze, 1 de prata e 2 de ouro. Provando que nunca é tarde para recomeçar, embalado pelos milhares de britânicos que entoaram o seu nome no Estádio Olímpico, David Weir subiu 4 vezes ao 1º lugar do pódio, em Londres 2012. 

A vitória na maratona é o 26º momento paralímpico do ano - "Weir's toughest race". 

Fonte: Daily Mail
Outros títulos e distinções: 

- 6 Maratonas de Londres
- 1 nomeação para os Laureus Awards 2012, na categoria de atleta com deficiência
- Campeonatos do mundo: 3 ouro, 1 prata, Assen; 3 ouro, Christchurch
- Paralympic World Cup - 2 ouro
- Campeonato da Europa - 1 ouro, 1 prata 1 bronze, Helsínquia 2005
Atleta com deficiência do ano 2008 para a BBC London

O MOMENTO

               


Alex Zanardi

Data de nascimento: 23/10/1966
Naturalidade: Bolonha, Itália
Iniciação no ciclismo: 41 anos de idade
Medalhas paralímpicas: 3 (1 prata e 2 ouro)
Primeiros Jogos: Londres 2012
Lesão: amputação das duas pernas 


A frase: "If some people could fly, Usain Bolt would feel disabled" (Daily Mail)

"Zanardi in pole-position" é o momento paralímpico do ano. O feito transcende o panorama desportivo. Aliás, desde 15 de Setembro de 2001 Zanardi prestou-se a contrariar as leis da ciência dia após dia. 

Na corrida, a contar para o CART - Championship AutoRacing Teams -, na Alemanha, o piloto azzurri embateu violentamente com o carro do canadiano Alex Tagliani, escapando com vida miraculosamente, mesmo com a perda de 3 quartos do sangue do seu corpo. 

Compararam as lesões com estudos da NASA sobre o ponto crítico além do qual o corpo humano não conseguiria sobreviver e disseram-lhe que era "oficialmente um homem morto", revelou Zanardi ao Daily Mail. 

Competidor-nato, ex-piloto da Fórmula 1, onde representou a Lotus, a Minardi e a Jordan, regressou às pistas com umas próteses desenhadas pelo próprio, menos de dois anos após o desastre, para correr no FIA World Touring Car Championship. Venceu o Italian Superturismo em 2005. Em 2007, permanece no activo, mas experimenta pela primeira vez o handcycling, na maratona de Nova Iorque, classificando-se em 4º lugar com 4 semanas de treino. 

Em 2011, soma os primeiros títulos no ciclismo adaptado, ao ganhar a medalha de prata no Campeonato do Mundo, realizado na Dinamarca, e a conceituada Maratona de Nova Iorque, à 4ª tentativa. Nos Jogos de Londres, com 45 anos (!), mostrou fibra e "agarrou" 3 medalhas, 2 de ouro e 1 de prata. É co-autor de dois livros sobre a sua vida: "Alex Zanardi: My Story (2004)" e "Alex Zanardi: My Sweetest Victory (2004)". 

Outros títulos e distinções: 

- Champ Racing Rookie of the Year

- 2 títulos do CART - Championship AutoRacing Teams

O MOMENTO

                

Johanna Benson

Data de nascimento: 17/02/1990
Naturalidade: Walvis Bay, Namibia
Iniciação no atletismo: 15 anos de idade
Medalhas paralímpicas: 2 (1 ouro e 1 prata)
Primeiros Jogos: Londres 2012
Lesão: Paralisia cerebral, afectação motora do lado direito 

Pelo mediatismo e currículo dos concorrentes, dificilmente será Johanna Benson a levar a estatueta para casa. Mas a sua história parece decalcada de um conto de fadas. 

5 meses após o nascimento, a família notou a fraqueza do lado direito do corpo da futura atleta, a primeira campeã da história do país em termos absolutos (olímpicos e paralímpicos) e a primeira mulher namibiana a chegar às medalhas. 

Os médicos asseguraram que Johanna teria acesso a fisioterapia, algo que nunca se veio a concretizar. A reabilitação da vencedora da prova dos 200 m, classe T37, e vice-campeã dos 100m, resumia-se às massagens da mãe, Baby Benson, também ela velocista enquanto jovem. 

A recompensa atribuída pelo Governo Namibiano em reconhecimento dos feitos de Johanna em Londres 2012 foi de sonho: uma casa, 170 000 N$, cerca de 22 500 euros, e um passaporte diplomático. Benson também recebeu dinheiro de outras instituições, filantropos e organizações, além de uma oferta de treino e fisioterapia grátis durante 4 anos, por parte de uma agência da sua cidade natal. 

No culminar da epopeia de Johanna, Derek Klaazen, mayor de Walvis Bay anunciou que iria renomear uma das ruas do porto da cidade com o nome da atleta. 

Entre o deslumbramento com as vitórias, Johanna Benson fez um apelo aos namibianos para que apoiem o desporto paralímpico de forma a que, no Rio 2016, os resultados possam ser ainda melhores. 


O IPC elencou o ouro inédito da Namíbia como 18º momento paralímpico do ano - "First ever gold". 

O MOMENTO

               

2 comentários:

  1. Era bom que houvessem mais categorias para atletas com deficiência!

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    1. Melhor ainda era não haver nenhuma :) e serem integrados nas categorias de melhor atleta feminino e masculino

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