terça-feira, 30 de julho de 2013

Opinião: Ainda há atletas de primeira e atletas de segunda, episódio.....

Escrevo-vos marca o relógio 04:36 da madrugada. Não por "complexo de artista" ou insónia contumaz, mas porque o palato da mente não escolhe hora ou lugar. Dei por mim a pensar que o Nuno Alves, a Graça Fernandes, o Gabriel Macchi, o Joaquim Machado ou o Lenine Cunha não mereceram destaque nos noticiários. Nem sequer assisti aos noticiários dos respectivos dias em que as medalhas foram conquistadas, mas sei-o, porque Portugal é assim. (Fi-lo posteriormente por descargo de consciência)

Procuro, num impulso estiolado, descortinar uma razão que mitigue uma atrocidade jornalística como esta. Percorro na tela infinita que é a mente as inúmeras conjecturas farsantes, enroupadas no discurso da maturidade profissional do "toca a todos" que transforma aberrações noticiosas em práticas corriqueiras, que muitos dos jornalistas da nossa praça insistem em agarrar e vender. A mediocridade velada em tal atitude não é para mim novidade. Seria desrespeito ao progresso da espécie se enquanto descendente do Homo Erectus não o entrevisse. 

O que sempre me espanta não é a mediocridade, mas antes o culto da mediocridade, como se a parcialidade de tratamento do desporto paralímpico, entre uma miríade de outros exemplos, se tratasse de um suplício ético inevitável em prol de algo superior. O quê? Não sei bem. A sobrevivência económica dos órgãos de comunicação social? Parece-me uma meta pouca consentânea com o Código Deontológico do Jornalista

Chamar-me-ão idealista. "O mundo real não é assim", "os jornalistas também são pessoas, precisam de dinheiro para viver", bla, bla, bla... Aos que alinham nesse pensamento, não respondo. Nesta catadupa indizível de sacrifícios "editoriais"que é o jornalismo de hoje, há um denominador comum entre os defensores do "indefensável". "Tem que ser assim; não há outra saída" a bem da sustentabilidade do jornalismo. Pois essa mesma retórica, meus caros, legitima a programação rasca e acéfala das nossas televisões, promove figuras intelectualmente repulsivas a supra-sumos da cultura nacional e esmifra qualquer manifestação de talento não-alinhado, porque o alternativo põe em xeque a ordem vigente. 

Por isso, não me contento com lenitivos - por miúdos: textos de agência decalcados do site do Comité Paralímpico Português "vendidos" como jornalismo e reportagens à boca do aeroporto finda a competição, quando no decurso da mesma não se ouviu palavra sobre o assunto. 

Àqueles que se comprometem com esta profissão apaixonante e me ousam dizer que não é possível de outra forma, digo: contem 1..2..3...4 e marchem redacção afora vociferando o código deste ofício que não vos merece.

P.S. Ironia das ironias: no passado domingo, 65 000 pessoas acorreram ao Estádio Olímpico de Londres para assistir ao 3º dia dos Sainsbury's Anniversary Games, dedicado à competição Paralímpica. O evento foi transmitido pelo Channel 4, estação que assegurou a cobertura recorde dos Jogos Paralímpicos de 2012. 

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