sábado, 2 de março de 2013

Andebol em cadeira de rodas: O que nasce torto...

Esclarecimento prévio: sou a favor - naturalmente - da promoção de novas modalidades adaptadas, que ampliem o leque de opções das pessoas com deficiência que acalentam a prática desportiva, seja com que intuito for: recreativo ou competitivo. O andebol em cadeira de rodas não é excepção e acredito piamente que reúne, na estética e na tradição, condições para se enraizar no nosso país. Mas não assim. 

O facto de a vontade em arrancar com a modalidade emanar de uma federação com pergaminhos no desporto nacional convencional, como a Federação de Andebol de Portugal, constituía um bom prenúncio. Cedo, o negrume assolou a iniciativa. De nada valeram os erros do passado, e do presente, noutros desportos adaptados, como o "esquecimento" das políticas de captação ou a formação intermitente, ou inexistente, de treinadores, árbitros e classificadores. 

E, deste modo, um projecto que poderia, e ainda pode, dar certo, "encavalitou-se" - para ser brando - no prestígio e recursos de um modalidade com história e que tanto carinho me merece: o basquetebol em cadeira de rodas. Ao invés de se encetar uma política que visasse a captação de atletas para o andebol em cadeira de rodas, foi lançado o repto às equipas de basquetebol em cadeira de rodas (BCR) de participarem num mini-campeonato concomitante à liga de BCR.

Vale a intenção, mas isto não é incentivar a excelência. Falo na 1ª pessoa, pela realidade que conheço da minha equipa, a APD Paredes. Cinjo-me a factos. Sugerir às equipas de BCR, que se debatem com extremas dificuldades financeiras para assegurarem o pagamento do pavilhão que as acolhe, dos transportes, manutenção de materiais, etc, a integração de uma outra modalidade, com ou sem intenção, é o mesmo que instar a canalização dos seus parcos recursos para a nova aposta. 

Ou seja, a escassa carga horária de treino semanal - regra geral, 2 sessões de 1 hora e 30 minutos - passa(rá) a ser repartida, ou distribuída, pelas 2 modalidades. E se não me parece crível alcançar um patamar de eleição com 3 horas de treino semanais, com 1 h e 30 min muito menos, já para não para referir a amálgama e consequente confusão de rotinas tácticas e técnicas.  

Mais grave ainda, e grotesco, as sessões são ministradas por 1 único treinador, cuja formação se restringe ao basquetebol em cadeira de rodas. A preocupação da Federação de Andebol de Portugal ficou-se pela oferta gentil de bolas e coletes, como se a isso se resumisse a "maquinaria" necessária para levar a bom porto um projecto desta envergadura. 

Insisto, não a formação de treinadores, árbitros ou classificadores precedente à competição, não a captação de atletas próprios cujos efeitos poderiam ser extensíveis a outras modalidades, não a aquisição de cadeiras, que se aceitaria em baixo número face à disponibilidade de exemplares mais antigos por parte das equipas e à débil situação económica do país. 

Para aqueles que o desporto representa um hobby, uma prática recreativa, a conjugação de 2 modalidades, sobretudo colectivas, não se assume problemática. 

Contudo, para quem agora ambiciona outros voos, como eu, o Filipe Carneiro, o Márcio Dias, entre outros, - e para os que aí virão -, "isto" significa roubar-nos a hipótese de sonhar e seguir as pisadas do Hugo Lourenço e, mais recentemente, do Marco Gonçalves, que, em boa hora, se pôs em "fuga" para um país que respeita a vontade do atleta com deficiência em abraçar o alto-rendimento ou emular algo próximo disso. 

O que nasce torto, tarde ou nunca se endireita. 

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