quinta-feira, 28 de março de 2013

Meia Maratona de Lisboa: pavimento pôs em causa a segurança e prestação dos atletas


A Meia Maratona de Lisboa foi tema de notícia vezes sem conta, pela positiva, graças à participação recorde, que ascendeu a 40 000 inscritos. Contudo, aquela que é umas das provas mais conceituadas do mundo desta distância trouxe dissabores aos corredores em cadeira de rodas. Na origem dos incidentes, esteve o pavimento, em paralelo, da recém-inaugurada Avenida da Ribeira das Naus – já em vias de ser reparada como ontem adiantou o Público -, esbulhando qualquer possibilidade aos atletas em cadeira de rodas de tentarem a obtenção de uma boa marca ou mesmo a quebra do recorde do mundo.
Fonte: Jornal Público

O alarme soou na inspecção do percurso. No decorrer da tarde de sábado, “vimos o grande problema que era a nova parte empedrada - um grande risco para os atletas e para o nosso equipamento dispendioso!”, conta Heinz Frei, um dos mais indignados. “Toda a gente ficou surpreendida e desapontada”, reforça Paul Odermatt, treinador do suíço Marcel Hug.

A preocupação com a segurança dos atletas motivou discussão prolongada até que se entreviu uma solução que representava um mal menor. “A nossa decisão foi fazer a viragem antes da parte problemática – não teríamos uma Meia Maratona, mas uma boa corrida, com total desempenho, talvez em 19 km”, revelou Heinz Frei, 2º classificado na prova. As propostas quer de alteração da distância, quer do próprio percurso não colheram sucesso junto da organização.

Heinz Frei, à esquerda, e Roger Puigbo cortam a meta. Fonte: Maratona Clube de Portugal
O histórico atleta paralímpico diz terem sentido “alguma falta de respeito pelo desporto em cadeira de rodas, depois dos dias de glória de Londres 2012” e expõe com revolta a pergunta: “Qual teria sido a posição dos organizadores caso o problema afectasse os corredores sem deficiência?!”.

Também o espanhol Roger Puigbo, vencedor da edição deste ano, expressou a sua decepção, apelando a que se lute para que “a organização entenda que dificilmente se obtêm boas marcas neste piso”. Afinal, “perdemos quase dois minutos ao diminuir a velocidade para nossa segurança”, desabafa. 

Sim, porque a prova acabou por tomar lugar através de uma resolução extrema, danosa para o alcance de grandes marcas. “Acordámos que correríamos a primeira parte de forma competitiva, depois abrandaríamos a velocidade na parte com problemas, e recomeçaríamos – a alta intensidade – a segunda parte da prova”, sabendo de antemão que “não é possível um tempo rápido nestas condições”, relata Heinz Frei. Recorde-se que, ironicamente, a Meia Maratona de Lisboa é considerada a mais rápida a nível internacional. 

“Todo o atleta tem de ser respeitado” – Paul Oddermat

Os esforços de contenção dos atletas não evitaram consequências desastrosas. Marcel Hug, um dos grandes favoritos à vitória, seguia líder quando a direcção da sua cadeira partiu, relegando-o na classificação final para um amargo 8º lugar. Jade Jones, vencedora na vertente feminina, e Ernst van Dyk foram outros dos atletas fustigados com a irregularidade e os buracos do pavimento.

A Avenida da Ribeira das Naus assinalada com um rectângulo a azul
Paul Oddermat reclama um tratamento digno dos atletas em cadeira de rodas, advertindo que está em jogo o valor do desporto. “Todo o atleta tem de ser respeitado”, remata. O técnico de Marcel Hug adiantou que o boicote à Meia Maratona de Lisboa só não se materializou devido à estima dos atletas pelos responsáveis da prova em cadeira de rodas.
Contactado pelo O Caminho é o Fim, o Maratona Clube de Portugal avançou que a hipótese de integração do trecho da Avenida da Ribeira das Naus, solicitada na sexta-feira pela Câmara de Lisboa, “foi apresentada à AIMS (Association of International Marathons and Distance Races)”, cujo parecer foi favorável, “pelo que a organização ficou despreocupada”, diz Rafael Marques, director-geral do Maratona. “O problema surgiu quando esta nova Avenida da Ribeira das Naus foi aberta à circulação de trânsito automóvel, provocando em poucas horas danos inesperados na via e que inviabilizavam a realização de trabalhos de recuperação em tempo útil”, explica. 

O responsável do Maratona Clube de Portugal agradece aos atletas a compreensão e afiança que, no próximo ano, tudo será feito “junto das entidades responsáveis para que o percurso esteja em perfeitas condições”, assim como “perspectiva a existência de uma equipa de trabalho única já em Outubro”, contrariamente ao que se tem sucedido com a organização da prova em cadeira de rodas a ser planeada por um grupo de profissionais específico.  

Porém, “o percurso irá manter-se, apesar de estarmos conscientes de que o empedrado adicional vai condicionar a obtenção de boas marcas, na competição em cadeira de rodas”. 

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